Beladona era a maior actriz de expressão de língua oficial portuguesa. Tinha o mundo do espectáculo a seus pés. Indiferente à agro-pecuária, vivia de noite com as corujas e esbarrava com volúpia em aventuras amorosas, em voos rasantes de morcego. De tanto esbarrar deu à luz um lindo menino na clandestinidade. Bebé que Beladona nunca viu, pois foi dado como morto em plena campanha de parto. E partiu aos seis minutos de vida para o peito de uma suposta mãe. Assim fora abafado o escândalo pelo empresário e produtor, que só viu em Beladona uma máquina de fazer dinheiro e não meninos. Anos e anos se passaram e, numa noite em que a força do destino português se cantava numa casa de fado, o acaso põe frente a frente a mãe e o filho da dita.
Fernanda
Porque todos os filmes reflectem, de algum modo, quem os faz, Oxalá não foge à regra. Só que, aqui, o cinema assume esse facto, acentua uma certa confessionalidade mostra-se. O lado simpático de Oxalá é essa disponibilidade. É muito claro que este é um filme que se sente mal na sua pele portuguesa do final dos anos 70, que vive fixado, adolescentemenre, na França da Nouvelle Vague. O seu exilado que atravessa, entre o perto e a distância os anos de Abril é, por isso, mais um estrangeiro que um compatriota, alguém cujo descentramento, em relação à realidade portuguesa, é total. Daí que nenhum dos seus gestos tenha consequências, daí que, visivelmente, ele não esteja disposto a pagar nenhum preço pela vida, nem se quer o preço do amor. Dai a impotência. O equívoco.