Dona Anja
Febre do rato é uma expressão popular típica da cidade de Recife, que designa alguém que está fora de controle, alguém que está danado. E é assim que Zizo, um poeta inconformado e de atitude anarquista, chama um pequeno tablóide que publica às próprias custas. O personagem está sempre às voltas com o universo que criou ao seu redor. Um mundo todo particular, onde saciar os desafortunados é uma mistura de benefício com altas doses de maldade. Um dia todas as convicções de Zizo parecem ruir ao se deparar com Eneida, a consciência contemporânea e completamente periférica. As relações de Zizo entram em conflito e todos que fazem parte do jogo festivo do anarquista se manifestam de forma egoísta. O conflito entre o indivíduo e a coletividade se instaura.
Há 20 anos uma pequena população ribeirinha do alto Amazonas comemora a Festa da Menina Morta. O evento celebra o milagre realizado por Santinho, que após o suicídio da mãe recebeu em suas mãos, da boca de um cachorro, os trapos do vestido de uma menina desaparecida. A menina jamais foi encontrada, mas o tecido rasgado e manchado de sangue passa a ser adorado e considerado sagrado. A festa cresceu indiferente à dor do irmão da menina morta, Tadeu. A cada ano as pessoas visitam o local para rezar, pedir e aguardar as “revelações” da menina, que através de Santinho se manifestam no ápice da cerimônia.
Dona Margarida
O Baixio das Bestas é um lugar símbolo das confluências humanas. Uma pequena comunidade entranhada dentro de uma cultura secular e paralisada em sua autoridade e em sua moral: a decadente cultura latifundiária. Nesse cenário se passa a história de Auxiliadora, uma menina explorada pelo seu velho avô. Armando uma arena de combate no meio do canavial, o Baixio das Bestas serve como centro nervoso da ação, onde o que interessa não é constatar uma situação, mas problematizar as relações e sugerir narrativas, a partir delas. Humanizar as questões e dimensionar a existência além da aparência das coisas e fraturar a cômoda situação de espectador diante dos fatos.
Aurora
No subúrbio de Recife, Lígia (Leona Cavalli) acorda já mal humorada, pois terá de suportar mais um dia servindo fregueses, que às vezes a bolinam no bar onde trabalha. Quando o dia terminar, só lhe restará voltar ao seu pequeno quarto, em um anexo do bar, e dormir para suportar a mesma coisa no dia seguinte. Paralelamente Kika (Dira Paes), que é muito religiosa, está freqüentando um culto enquanto seu marido, Wellington (Chico Diaz), um cortador de carne, decanta as virtudes da sua mulher enquanto usa uma machadinha para fazer seu serviço. Neste instante no Hotel Texas, que também fica na periferia da cidade, Dunga (Matheus Nachtergaele), um gay que é apaixonado por Wellington, varre o chão antes de começar a fazer a comida. Na verdade ele é a pessoa mais polivalente no Texas, pois faz de tudo um pouco. Um hóspede do Hotel Texas, Isaac (Jonas Bloch), sente um grande prazer em atirar em cadáveres, que lhe são fornecidos por Rabecão, um funcionário do I.M.L.
O que acontece enquanto a vaca vai e vem.